2.19.2008

a realidade socrática engenhosa

Uma excursão à Nazaré, em pleno circuito da passeio turístico de fim de semana, de recreio após uma passagem pelas grutas da serra de mirad'aire.

Após a chagada, foi combinada a hora de regresso para as 17:00 horas. Estava a camionete parada no parque do miradouro do sítio da Nazaré.

Chegada a hora do adeus ao Sítio, as pessoas vão chegando e entrando para a camioneta auto-pullman com ar ventilado.

A hora da partida está no zénite e falta apenas um passageiro, contrariando os habituais hábitos de atraso dos portugueses.

Passam 15 minutos e o guia da excursão para procurar o excursionista em atraso clamoroso.

O motorista pede calma Às pessoas e diz que é uma situação habitual nestas andanças a que está habituado e só o regula mesmo o limite de chegada ao destino pelas 20:00 horas desse dia, que de resto podem passar comboios e automotoras, aviões e outras aeronaves, mudança de aeroportos e barras de portos: nada o perturba!

O guia volta passado mais meia hora e nada que uma figura de alguém conhecido seja familiar aos restantes 49 excursionistas.

A fim de entreter os animosos viajantes, diz uns gracejos e anuncia os novos passeios, daí a 8, 15, 30 dias para Badajoz, Algarve, Valença, etc.

As suas palavras vão tranquilizando as gentes habituadas às viagens, mas não às esperas que nessa coisa o guia é muito rigoroso, mas do 50º excursionista, nada.

As outras camionetas foram saindo e apenas resta aquela no parque. Ao fundo de uma rua, entrecurtada e sinuosa, começa a descortinar-se uma figura, calma e serena no seu deambular, virando a cabeça ora à direita ora à esquerda para nada perder em pormenores.

A maior proximidade da camioneta e o caminhar na sua direcção, faz parecer que o fim do desespero se aproxima.

O guia sai, para falar com o indivíduo, atenuar o embate dos restantes camaradas de viagem e dar-lhe um belo puxão de orelhas.

Viram-nos das janelas, a esbracejar e a falar alto, porém imperceptível. Os rostos de quem estava dentro do veículo foi abrandando a rispidez dos traços dos rostos.

Fazendo "ouvidos de mercador", o passeante atrasado vai andando em direcção à camioneta, na sua voz melodiosa e eloquente, esgrimindo argumentos e gestos embraiados nas palavras, que em nada satisfaziam o guia e, audível já no interior do autocarro, também alguns dos domingueiros mais dianteiros.

Para rematar, com um pé sobre o primeiro degrau e com os braços esticados ao varão de apoio na entrada, vozeirou para quantos o queriam ouvir:

"não fui eu que me atrasei, vocês é que se desencontraram de mim!"

A partir desse momento, esse indivíduo foi riscado das listas das excursões, cursou engenharia, fez projectos, recebeu a dobrar na exclusividade, expôs o país à clandestinidade económica europeia e continua a rir como se nada fosse com ele, mas apenas com os 99.999.999 portugueses.


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